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Profissionais da saúde apontam agravamento da violência nos últimos meses

Na percepção de trabalhadores, a retirada de controladores de fluxo e vigilantes contribuiu para o aumento das agressões; tema foi debatido em Audiência Pública realizada na segunda-feira (22)  

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Ao menos 80% dos profissionais de enfermagem paulistas já foram vítimas de agressão no trabalho, aponta um levantamento realizado em 2023 pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Esse tipo de violência também está presente em Araraquara, que registrou quatro ocorrências de agressão em menos de um mês, de acordo com o Sindicato dos Servidores Municipais de Araraquara e Região (Sismar).

 

O tema foi debatido na Audiência Pública “Violência contra a enfermagem: desafios e estratégias de proteção nas unidades de saúde”, realizada na segunda-feira (22), a partir de Requerimento dos vereadores Enfermeiro Delmiran (PL), Marcão da Saúde (MDB) e Paulo Landim (PT), que compõem a Comissão de Saúde da Câmara.

 

Ao longo do debate, participantes relataram que, em Araraquara, houve um aumento das agressões contra profissionais de saúde nos últimos meses, além de uma escalada no nível de violência.

 

“Há quase 20 anos nessa profissão, hoje eu tenho medo de sair de casa para trabalhar. E essa não é a fala do Rai, essa é a fala da maioria dos colegas que trabalham comigo”, compartilhou o enfermeiro Raimundo Nunes. “Hoje, não tem um dia que nós, da UPA Valle Verde, não sofremos uma agressão, seja verbal ou física”, afirmou. “E quem agrediu continua sendo atendido na mesma unidade. Não se quebra o vínculo”, contribuiu a diretora de saúde do Sismar, Suely Scodeler.

 

“A situação agravou-se nesses últimos meses com a retirada do abono pecuniário e com a redução da insalubridade”, contou Milene, técnica de enfermagem na UPA Vila Xavier há 10 anos. Passando por acompanhamento psiquiátrico em decorrência de recorrentes agressões, ela explicou que a diminuição do salário contribuiu para uma piora na situação. “Tendo que arcar com as custas de tratamento psiquiátrico, medicamentoso, terapia e com uma perda salarial, essa conta não está fechando mais”, disse.

 

“Os meus colegas da unidade estão doentes, desmotivados e pensando no caso até de buscar novas possibilidades de profissão”, comentou Milene sobre o impacto da falta de condições de trabalho e do aumento da violência. “Na pandemia, nos foi prometido um acolhimento profissional, psicológico, psiquiátrico. Foram só promessas”, relembrou.

 

“Eu tenho visto colegas que realmente desistiram. Tem gente tomando muita medicação, muita gente afastada, e a gente ainda é motivo de piada”, concordou Corina, técnica de enfermagem da UPA Central. A profissional relatou que a rotina de trabalho tem envolvido um número de profissionais insuficiente para lidar com a demanda, agressões por parte de pacientes ou acompanhantes, cobranças por ações e resultados, invasões e roubo de materiais.

 

“É humanamente impossível quatro pessoas darem conta de toda a urgência, emergência e a psiquiatria, que é uma demanda especial, que nós não temos nem onde colocar”, comentou Corina sobre as dificuldades enfrentadas pela equipe da UPA Central. “O dimensionamento das UPAs precisa ser revisto. A gente tem um dimensionamento para 150 atendimentos, mas estão atendendo 300”, concordou Suely, relembrando que as UPAs da cidade têm atendido acima da capacidade prevista.

 

Entre os discursos, repetiu-se a percepção de que a remoção dos controladores de fluxo e vigilantes das unidades de saúde contribuiu para o agravamento da situação. Antes da retirada, contou Corina, o número de casos de invasão e de agressão contra os servidores era menor. “Um controlador já faz toda a diferença”, afirmou.

 

“Houve uma decisão da gestão que mudou a rotação das coisas, que foi justamente a retirada do controlador de acesso. Acho que essa é uma fala uníssona de todo mundo. A partir do momento em que foi retirado esse profissional da UPA, problemas começaram a acontecer”, destacou o vereador Guilherme Bianco (PCdoB). “A Guarda Civil Municipal não pode ser exclusivamente para cuidar das UPAs, sobretudo em uma cidade como Araraquara, que tem um déficit de guardas”, complementou.

 

Larissa Perre, profissional de saúde na cidade há 14 anos, cobrou ações concretas do poder público. Ela relembrou que, em maio deste ano, uma audiência debateu as condições de trabalho e a saúde mental da enfermagem, mas questionou quais medidas têm sido colocadas em prática. “Essa audiência de que eu falei foi no dia 9 de maio e quantos dos encaminhamentos feitos foram colocados em prática? Nós fizemos outra hoje. Quantos dos encaminhamentos retirados aqui vão ser postos em prática?”, perguntou.

 

Larissa destacou também a importância de denunciar as agressões. “Nós temos duas ferramentas poderosas de denúncia. Uma é o Sismar. As coisas precisam ser relatadas ao Sismar para que isso não chegue na gestão como um caso isolado. A segunda chama Ministério Público do Trabalho. Se o seu trabalho não tem te protegido, você pode fazer a denúncia da sua casa, pela internet”, disse. “Nós precisamos que [os casos] sejam notificados, porque só com base em estatística podemos criar programas”, concordou Suely Scodeler.

 

Para a secretária de Saúde interina, Emanuelle Laurenti, a solução das demandas apontadas representa um desafio. “Acredito que não vai ser de uma hora para outra. Não temos como prever ou conseguir ações imediatas, porque, por mais que a gente promova qualquer ação de melhoria, de implementações, a gente tem que ter um prazo”, disse.

 

“Temos, sim, que pensar num diagnóstico da saúde de Araraquara. Isso é primordial para depois traçar um planejamento de que formas nós vamos agir. Primeiro, demanda reprimida de consultas, exames, o que está nas unidades, nas especializadas e tudo o mais”, concluiu.

 

Autoridades presentes

 

Além dos autores do Requerimento e da secretária de Saúde interina, compuseram a mesa diretora dos trabalhos a vice-prefeita, Meire Laurindo, e o conselheiro Marcos Fernandes, representando o Coren-SP. Também contribuíram para o debate a vereadora Maria Paula (PT) e o vereador Alcindo Sabino (PT), além do Comandante-Geral da Guarda Civil Municipal (GCM), Sírio Santos Magalhães Junior, e o policial militar do estado Richard Braga.

 

Para ver e rever

 

A Audiência Pública foi transmitida ao vivo pela TV Câmara, no canal 17 da Claro e pode ser conferida na íntegra na página do Facebook e no canal da Câmara no YouTube.


Publicado em: 23 de setembro de 2025

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Categoria: Câmara

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